ACADEMIA GOIANA DE MEDICINA

sábado, 10 de outubro de 2009

A ÉTICA E MEUS ALUNOS DA FACULDADE DE MEDICINA

Durante os últimos quarenta anos tenho dedicado uma parte da minha vida ao relacionamento com os meus alunos; ao tentar fazer uma análise retrospectiva destes acontecimentos, fico surpreso ao perceber o quanto aprendi com estes jovens.

É relação diuturna; seus questionamentos diretos, ao contrário de me atemorizarem, obrigam-me a um exercício diário de maturação e sedimentação de conhecimentos.

Não sei se tenho conseguido enfrentar todos os desafios com o discernimento necessário; não sei se os meus interlocutores ficam convencidos com os meus argumentos; no que diz respeito aos meus auto-questionamentos, perduram muitas questões que não me satisfizeram.

Tenho a consciência tranqüila de que procurei ser honesto nos meus posicionamentos, definindo, com clareza, os limites dos meus conhecimentos; quantas vezes eu tenho respondido a questões, aparentemente simples, com um sonoro não sei!

A busca da verdade procurada pelos meus jovens interlocutores é sempre acompanhada, também, pela minha procura, atualização nos compêndios.

O jovem não tem compromissos definitivos com pessoas ou mesmo com Instituições; seu pensamento é livre como o pássaro que desafia a imensidão do espaço e voa guiado, no caso da ave, pelo instinto de conservação, no caso do jovem pela procura do saber.

A honestidade deste relacionamento irá definir a firmeza do entendimento!

Uma das coisas mais difíceis no relacionamento humano é a transmissão de conhecimentos; à medida que os anos vão passando, sinto que adquiro, gradativamente, mais espontaneidade para o diálogo.

Às vezes sou surpreendido por atitudes, aparentemente, sem importância, mas que calam fundo no meu ego:

- o silêncio dos ouvintes!

Silêncio respeitoso e interessado, silêncio amigo, silêncio filial?

O monólogo nestes momentos transcende as raias do lugar comum quando o assunto que está sendo discutido é a ética médica.

Tenho procurado, por ações e realizações, demonstrar e, por conseqüência, transmitir aos meus alunos, um profundo respeito ao doente.

Nas nossas “visitas” às enfermarias do Hospital das Clínicas, a singeleza do paciente estirado no leito é levada em conta às ultimas conseqüências.

O respeito à figura humana, geralmente pessoas humildes e sem cultura, adquire matizes transcendentais; faço lembrar que por trás daquela figura humana ali colocada à nossa mercê, existe sempre uma retaguarda sentimental e pessoal que precisa ser levada em consideração.

É um pai, um filho, uma esposa ou irmão que, à distância, estão ligados por laços indestrutíveis àquele ser.

O estudante precisa aprender, ainda nos tempos de Escola, que há necessidade de se nominar aquela criatura, olvidar que este é apenas “mais um caso interessante”, de que aquele outro “é o paciente do leito 15 ou 20”.

Tratar este nosso semelhante com todas as forças do nosso sentimento afetivo faz bem ao nosso espírito e aproxima-nos do individuo; como resultado, qualquer tratamento que propusermos será, realmente, mais efetivo.

O jovem, algumas vezes, se esquece que também irá cumprir o ciclo biológico da vida e chegará um dia que o passado e, por conseqüência, a juventude, ficará para trás; enquanto isto não acontece, deve se lembrar de tratar com respeito o colega mais velho de profissão.

A medicina, por não ser uma ciência exata permite, algumas vezes, interpretação de fenômenos biológicos sob várias ópticas; deve-se evitar a tentação de se acharem os donos da verdade!

O tempo matura o orgulho e define a personalidade; em medicina o que é certo hoje, provavelmente não foi ontem e mais provavelmente ainda, não será amanhã.

É necessário aceitar nossas limitações, que em ultima análise é a constatação de que há varias verdades e procurar aprender nos possíveis erros dos outros; no futuro iremos aprender com os nossos próprios erros; assumir esta inevitável ocorrência exige, muitas vezes, uma verdadeira catarse.

Caminhar confiante no futuro, esperançoso no porvir de realizações; ser feliz depende, muitas vezes, exclusivamente do móvel que nos guia.

Não há profissão como a nossa, se nos realizamos com a mesma, não conheço outra definição de felicidade!

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